49-LEMBRANÇAS- CAIO CARDOSO

 

 

Lembro-me dela sorrindo enquanto olhava o mar, enquanto corria pela água de pés descalços e cantarolava as musicas que ela gostava.

Debaixo da lua e das estrelas ela dançava solitária,  enquanto eu apenas podia andar atrás dela, tentando acompanhar seus pés leves.

 Como alguém que retornava aos braços calorosos da mãe depois de algum problema, ela fazia daquele momento o momento mais feliz de sua vida, o momento de felicidade que todos corremos atrás.

 Ela era como as ondas suaves que quebravam na praia, sempre tranquilas e com aquele som que traz conforto aos ouvidos cansados.

 Era como a lua, que trazia beleza e luz a noite escura e  como as estrelas, me guiando como guiam os marujos perdidos no mar.

 

 

Lembro-me sua cabeça repousando nos meus ombros enquanto assistíamos a um filme na nossa televisão.

 De como ela se esforçava para ver o filme até o final, mesmo nos dois sabendo que ela dormiria na metade do filme e eu teria que contar como o filme terminaria.

 Ela prestava atenção em cada detalhe que eu dava sobre a segunda metade do filme enquanto ia montando as imagens em sua cabeça, levando surpresas e chegando a chorar dependendo do filme.

Eu gostava de como ela era sincera em cada expressão e da lágrima que percorria seu rosto.

 

Enquanto ela fazia meu dia-a-dia mais alegre e radiante eu tornava o dela uma rotina que ela não podia suportar.

 Enquanto eu retirava coragem dela para poder enfrentar minhas provas e testes, ela chorava em casa sozinha para não me mostrar seu rosto de tristeza. 

Às vezes a vida te põe em situações onde o certo é o mais dolorosos ,mas a sabedoria vem ao aceitar a dor pelo bem de quem se ama.

Mas não um amor literário onde ou se tem um final feliz ou trágico, mas sim um amor onde à lição é aprendida.

 

 

Lembro-me de como tive que deixa-la ir, um homem jamais vai poder prender um pássaro sem tirar dele a liberdade

As palavras que disse para ela partir, mesmo não sendo sinceras e mesmo eu não querendo proferi-las, foram as que abriram a gaiola na qual eu a mantinha presa.

           

 

 

 

 

 

 

Lembro-me das noites frias e solitárias que passei, das tarde que custavam a acabar e dos dias que custavam a começar.

 

 Das dores que senti em meu peito e do calor que um copo de bebida ou um cigarro me trazia.

Dos momentos que eu era encarado pelo oceano, sendo julgado pelas ondas e condenado pelas estrelas.

Dos filmes que não faziam mais sentido serem assistidos e das vezes que peguei meu telefone para ligar e tentar pedir desculpas.

 

 

 

 

 

Lembro-me de vê-la à distância enquanto ela ria com seus amigos, olhava para o céu e caminhava pelas ruas.

 

Gostaria de fazer o tempo parar, apenas para poder admirá-la em toda sua forma e graça, mas esses dias foram passando e outras coisas foram ocupando minha pequena cabeça. 

O que um dia foi tudo passou a parecer mais um grão de areia levado pelo vento, e finalmente recomposto em mim posso dizer que valeu a pena.

 

 

 

 

 

Na solidão do dia-a-dia consegui achar momentos de alegria, não de felicidade, mas de alegria. Envolvi-me e deixei-a ser envolvida com outras pessoas, aos poucos não havia mais nenhuma ferida aberta.

Noticias que agora ela estava feliz vieram aos meus ouvidos trazendo paz as minhas duvidas.

 Não posso dizer que a esqueci, em nenhum momento poderei dizer isso.

Posso afirmar que foi o certo a ser feito e foi dolorido, mas não afirmo que foi em vão.

 

 

Posso pedir para que o destino nos una novamente algum dia por capricho, mas não posso pedir para voltar aquele momento na praia enquanto ela sorria olhando para o mar.   

CAIO